BOATOS ENVOLVENDO MILICIANOS ARGENTINOS

Pesquisa realizada pelo professor  Ruy C. Wachowicz, da Universidade Federal do Paraná, cujo trabalho sob o titulo “ A Transformação da Propriedade Fundiária do Vale do Iguaçú”, apresentada no VIII Simpósio Nacional dos Professores de História  e publicado em 1976, em São Paulo, relata a dificuldade em colonizar a região, inclusive os Campos do Erê, que até 1916 pertenciam ao Paraná. O historiador relata os fatos abaixo.

“Enquanto a Província colhia contínuos dissabores com sua política oficial de colonização (Assunguí e russos-alemães), na parte sudoeste de seu território um novo problema tomava vulto. A Confederação Argentina não só passou a reivindicar os territórios compreendidos na questão que ficou conhecida por “questão de Palmas” (17), como também passou a penetrar em território litigioso entre as duas nações.

Os “correntinos” chegaram a abrir uma picada, pavimentada nas partes mais difíceis, ligando a fronteira correntina com o território de Palmas.

Cargueiros transportavam regularmente sobretudo mate para a Argentina. Comissões topográficas e de sondagens do mesmo país percorriam frequentemente o território contestado. Boatos alarmantes, inclusive de presença de milicianos argentinos na região, causavam pânico nas populações brasileiras, que estavam completamente desguarnecidas. Um desses boatos. ocorridos no mês de fevereiro de 1881, segundo o qual mais de mil argentinos armados haviam sacrificado pelo morticínio os habitantes de Campo Erê, fez a população de Palmas abandonar suas casas com suas famílias, a pé ou a cavalo, retirando-se no maior desespero e deixando a cidade praticamente despovoada . Muitos desses retirantes refugiaram-se em Porto União, Campos do Erê e em Palmeira. No mês de março de 1881,alguns desses refugiados chegaram a Palmeira, trazendo consigo parte do seu gado e muitos outros estavam a caminho. O Juiz Municipal de Palmas, Arlindo Moreira Miró, solicitava ao Presidente da Província João José Pedrosa, a  presença de força militar estacionada na região, não para combater argentinos “porque não há guerra atualmente”, mas para precaver-se de possíveis ataques de bandidos e malfeitores correntinos ”que abundam na saída da picada que deste Campo segue e sai no de Corrientes” .

Por sua vez, Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá também corroborava com esta opinião, escrevendo que “este receio tem algum fundamento porque os ervais de Corrientes, desde o lugar, a margem do Uruguai, chamado Formigueiro, até a Campina do São Pedro, junto ao Campo-Erê, é habitado por criminosos argentinos, orientais e brasileiros, e por escravos fugidos do Rio G:ande e Paraná” .

Essa tensão, existente no relacionamento diplomático entre o Brasil e a Argentina, fez os estrategistas imperiais brasileiros a levantarem a questão das comunicações com a região em disputa, caso houvesse algum conflito militar com a Confederação Argentina, haveria necessidade de comunicações rápidas com a região. As únicas vias existentes que colocavam a região contestada em contacto com os grandes centros decisórios nacionais, eram ainda os caminhos vicinais que desembocavam no antigo caminho das tropas, o qual comunicava o Continente de São Pedro do Rio Grande do Sul com a feira de Sorocaba, em São Paulo. Desta maneira, a comunicação era extremamente morosa e deficiente, feita através de muares. O Decreto Imperial 2.502 de 16 de novembro de 1859, já autorizava a criação de colônias militares na região contestada com a Argentina e as duas primeiras foram a de Chapecó em 1882 e Chopim em 1882.”

Pesquisa: Nelson Tresoldi